...tem sido uma correria diária. Todos os dias ao deitar penso no que não consegui fazer, e isso não me deixa adormecer. Penso que deveria ter conseguido realizar todas as tarefas a que me tinha proposto e sinto uma sensação de inutilidade. Dá-me vontade de me levantar outra vez da cama e ir fazer qualquer coisa. Sobretudo dá-me vontade de ir embalar a tralha para levar já para a casa nova, mas depois penso:
-"Guida Maria (não sou Maria, sou Isabel) mas o que é que vais fazer à uma da manhã, já com toda a gente a dormir em casa? Acordar toda a gente a embalar coisas, de que ainda precisas aqui e que depois, não vais conseguir encontrar porque está tudo dentro de caixas?"
Na segunda feira, fui ao funeral do pai de um grande amigo. Penso que isso também mexeu um pouco comigo... Trouxe-me à lembrança uma dor que tem andado adormecida. As saudades que tenho do meu pai. A dor de ele ter partido quando estava grávida da Maria. A pena de ele não ter ficado connosco ao menos para conhecer a neta. Lembro-me quando a médica dele me contou, que ele lhe perguntava muitas vezes se ainda tinha tempo de conhecer o neto (era o que ele gostava). No dia do seu funeral tinha marcada a minha ecografia morfológica. Quando a realizei, alguns dias mais tarde, fiquei a saber que afinal era uma neta...
É horrivel vermos a doença levar aqueles que mais amamos, sem poder enfrentá-la e lutar com ela de igual para igual... É injusto termos que dizer adeus, quando temos vontade de abraçar, mimar, brincar, correr e rir com esse alguém. O meu pai tinha um sentido de humor óptimo!
Os sentimentos, as lembranças, os cheiros, as gargalhadas, esses ficam para sempre no coração! A imagem... no olhar!
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