Diante de uma crianca
Como fazer feliz meu filho? Não há receitas para tal. Todo o saber, todo o meu brilho de vaidoso intelectual vacila ante a interrogacão gravada em mim, impressa no ar.
Bola, bombons, patinagem talvez bastem para encantar?
Imprevistas, fartas mesadas, louvores, premios, complacências, milhões de coisas desejadas, concedidas sem reticências? Liberdade alheia a limites, perdão de erros, sem julgamento, e dizer-lhe que estamos quites, conforme a lei do esquecimento?
Submeter-se a sua vontade sem ponderar, sem discutir? Dar-lhe tudo aquilo que há-de entontecer um grão-vizir? E se depois de tanto mimo que o atraia, ele se sente pobre, sem paz e sem arrimo, alma vazia, amargamente?
Não é feliz. Mas que fazer para consolo desta crianca? Como em seu intimo acender uma fagulha de confianca?
Eis que acode meu coracão e oferece, como uma flor, a docura desta licão: dar a meu filho meu amor. Pois o amor resgata a pobreza, vence o tedio, ilumina o dia e instaura em nossa natureza a imperecivel alegria.
(Carlos Drummond de Andrade)
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