14 outubro 2011

Dos Cortes

Apesar de estarmos em Tanger, acompanhamos diariamente a agonia e morte lenta que Portugal atravessa nos tempos de hoje, e contrariamente àquilo que mais desejava, vejo dia a dia a confirmação do que já há muito prevíamos com a esperança de que não fosse bem assim...
Quando em 2008, o Ivo veio pela primeira vez a Marrocos, a primeira coisa que me disse qundo chegou a casa foi: "Nós vamos mudar-nos para Tanger!" "Está maluquinho da cabeça..." Pensei eu..."Alguma vez vou deixar a minha casa, a minha família, os meus amigos, os meus alunos, as minhas escolas... Isto não há-de ficar assim tão mal..." Com o passar do tempo, fui obrigada a começar a ponderar melhor essa hipótese, e em 2009, o encerramento da empresa, trouxe quase essa certeza. E ao mesmo tempo não vislumbrava nada que me desse sinais de que a decisão e a escolha tivessem alternativas... A situação estava má, as contas certas, os combustíveis cada vez mais caros, os meus honorários/hora, cada vez mais baixos, as horas de formação cada vez menos, e assim que a oportunidade apareceu foi agarrada com unhas e dentes! Na hora da partida confesso que pairava em mim o peso das saudades, do que ia ficar para trás, as minhas "tias", a família, o nosso ambiente, os amigos e o nosso mundo. Iria ter que recomeçar noutro sítio completamente diferente... E os meninos... Os amigos, os professores, os ambientes, os cavalos, o futebol, os avó, as rotinass... Valeria a pena? Compensaria o sacrifício? Mas os cortes já eram mais que muitos e estávamos a senti-los verdadeiramente na pele...
Com a chegada as coisas correram normalmente. A adaptação dos meninos correu bem, o trabalho do Ivo corre sobre rodas, e o meu começa a aparecer mais regular... E penso... Parece que o sacrifício da distancia e da saudade vai valer a pena... Tem que valer... E depois chegam estas noticias, e os mails das escolas a anunciar que os cursos que normalmente me estavam destinados não vão arrancar, e penso... Se tivesse ficado neste momento não tinha o que fazer... Custa pensar nisto, e custa pensar que este conforto de que viémos à procura tem este preço enorme que é a saudade, mas de facto... Não temos outra saída. E sei que assim é melhor. Que temos um trabalho onde recebemos o que merecemos por ele, e que os meus filhos frequentam uma escola onde o grau de exigência existe.

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Uma vez que estávamos de praias fechadas e limitações nas deslocações pelo país pouco mais pudémos fazer do que ficar em Tanger. Para variar...