23 junho 2011

Dia marcado...

Lembro-me que há uns 25 anos choveu imenso, andava eu no 5º ano, e na escola comemorávamos o primeiro dia de Verão. Porém não foi lá grande festa pois a chuva veio estragar os festejos.
Há 19 anos, neste mesmo dia, embora solarengo um telefonema veio ensombrá-lo. O meu padrinho e amigo Jorge faleceu, de acidente de mota, com apenas 33 anos... Com um filho lindo de apenas 1 ano e meio, com uma carreira brilhante à frente como médico dentista, acabado de comprar um novo imóvel para montar a sua clínica, é traído por um condutor distraído que o deita abaixo quando se cruza com um autocarro...
No dia 21 de Junho deste ano, mal  começa o dia recebo um novo telefonema, com a triste notícia de que um querido amigo nos havia deixado... Que tinha sido traído por uma infecção apanhada no hospital enquanto internado para mais um ciclo de tratamentos, numa luta feroz contra uma leucemia estupida, injusta, cruel... Que sim, que estava doente, que todos nós os amigos sabíamos, mas a sua força de viver era tão grande, o seu sorriso continuava tão rasgado, o seu contacto continuava tão ou mais assíduo, que não, ninguém pensou, ninguém quis imaginar, ousou pensar que o resultado de todo aquele sofrimento, aquele sacrificio, aquela privação da família nas semanas de internamentos tivesse esse desfecho. Com o Afonso não! COM O AFONSO NÃO!!!!
Mas foi... e nós... ficámos assim... perdidos, pequeninos, sem querer acreditar, sem entender, com a sensação de que o pesadelo ia acabar assim que estalássemos os dedos. Mas não... e a realidade, bem dura, bruta e mais uma vez reforço, INJUSTA chegou-nos. Chegou-nos, chegou-me e tocou-me brutalmente na figura do seu melhor amigo, que chorava como uma criança a perda de um "irmão" a quem inclusivamente o filho chamava tio; na figura do irmão que se via tão perdido com os olhos rasos de lágrimas; na figura da mulher, a minha amiga a fazer das tripas coração, para aguentar todo aquele sofrimento serena e confiante, se bem que no interior tão assustada, e tão vazia; na filha que fazia de tudo para apoiar a mãe; na falta do filho que não conseguiu lidar com a noticia com os seus 12 aninhos, e sobretudo com a forma de uma caixa de madeira, fechada e com a fotografia do meu amigo sorridente, colocada numa moldura. Numa moldura... E eu que só desejava que a moldura tomasse forma e que ele nos aparecesse ali, e que nos dissesse que nos tinha pregado uma partida.
Mas não, e assim se foi o nosso amigo... numa tarde de verão... do Verão que ele ansiava para ir passear no seu barco.... Foi uma despedida muito sentida, com gente como eu nunca tinha visto em funeral algum, mas também... quem não gostava de ti... Fica bem Afonso, nunca te esqueceremos, e olha por nós, que sentimos desde já tanto a tua falta....

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Uma vez que estávamos de praias fechadas e limitações nas deslocações pelo país pouco mais pudémos fazer do que ficar em Tanger. Para variar...