09 fevereiro 2012

Do gostar e do não gostar

Parece que não é só do português (mas também) o velho hábito de se queixarem de tudo. Desde que cheguei a Tanger, já conheci muita gente e de várias nacionalidades. Espanhóis, franceses, ingleses, marroquinos e portugueses. Mas é dos expatriados que quero falar. Sim, expatriados. É um termo um pouco estranho para nós, mas que é muito utilizado aqui. Para nós, o termo normalmente utilizado é o emigrante:)
Mas voltando ao assunto. Tenho-me apercebido, sem achar grande piada, que ultimamente as conversas com alguns, e principalmente algumas das expatriadas só têm um único tema; falar mal de Marrocos e dos Marroquinos. Que são desorganizados, que conduzem mal, que nunca cumprem com o prometido, que se sentem enganados nas compras na Medina... enfim... uma data de queixas. E a mim só me apetece perguntar: "Então o que viest fazer para aqui?", "Se estavas tão bem no teu país porque viéste?" Estas pessoas esquecem-se que estamos em África, num país em desenvolvimento. Sim a reciclagem ainda não existe, as filas nos sitios publicos não se respeitam, há uma grande percentagem de analfabetismo, regateiam preços, não têm os nossos hábitos de higiene, não têm capacidade de organização nem as coisas informatizadas... Mas como era o nosso país há 15, 20 anos atrás? Exactamente igual... As pessoas deitavam os papéis para o chão, também cuspiam para o chão, havia miudos que não iam à escola... Enfim estes são apenas alguns exemplos, mas... fomos nós que escolhemos (bem ou mal, forçados ou de livre vontade) a vir para aqui. E se o país é assim, temos que nos adaptar... Esta é a minha visão das coisas. Há princípios dos quais não prescindo; os hábitos de higiene, a educação com os outros, a organização, e não é pelo facto de estar num país que por norma não funciona assim, que tenho que fazer igual...
Sempre encarei a minha vinda para Tanger como uma boa oportunidade para ganhar alguma estabilidade financeira, e sobretudo como uma óptima oportunidade para dar uma educação diferente aos meus filhos. Melhor que em Portugal? Não sei... Mas diferente e com a perspectiva de horizontes mais alargados. Tenho a plena noção que os meus filhos desde cedo vão falar correntemente 5 linguas, e conviver com gente de vários países, com diferentes culturas, que inconscientemente os miudos trocam entre si. Isto sim eu sei que não teria em Portugal... Não ao preço que tenho aqui. É claro que há colégios internacionais em Portugal onde há crianças de outros países, mas isso implicaria que tivesse que me mudar para Lisboa ou Porto, e concerteza, principalmente numa altura destas não teria condições financeiras para tal, tais são os preços praticados... Então é a esta oportunidade que tenho que me agarrar, e em vez de perder tempo e energia a "reparar" no que não funciona aqui, que tal olhar e valorizar o de melhor que tem Marrocos para nos oferecer? O clima, as paisagens, as oportunidades profissionais, a hospitalidade dos marroquinos (sim, são mentirosos, mas nunca te dizem que não a nada, e sentindo que não os queremos enganar e os tratamos com respeito, são do mais leal que há), a variedade cultural, a tolerância religiosa e o facto de até estarmos "perto" de Portugal? Ainda só encontrei duas espanholas com esta mesma mentalidade, e talvez por isso tenhamos passado tanto tempo juntas ultimamente, mas o facto é que fomos nós que viémos para aqui, é o seu país, a sua cultura. Somos nós que temos que nos adaptar. É claro que podemos contribuir com os nossos conhecimentos para ajudar, mas este é o mundo deles, dos Marroquinos. Aqui é Marrocos, não Portugal, Espanha, França ou Inglaterra.

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Uma vez que estávamos de praias fechadas e limitações nas deslocações pelo país pouco mais pudémos fazer do que ficar em Tanger. Para variar...